Um Pequeno Favor é estranho. Tão estranho que aconteceu algo raro: eu sai da sala sem saber o que pensar sobre ele, sequer se eu tinha gostado ou não. O diretor Paul Feig (Caça-Fantasmas, A Espiã que Sabia de Menos) nos brinda com um suspense de comédia recheado de elementos que brilham em diversas frentes.
A história gira em torno de Stephanie (Anna Kendrick). Ela tem uma mente inocente e é uma mãe muito voluntariosa. Quando encontra Emily (Blake Lively), que é o oposto dela, surge uma relação improvável. Não tarda para esta segunda pedir um Pequeno Favor àquela e a partir daí as coisas saem completamente do controle – das personagens, do filme e da nossa sanidade enquanto público.
Vou evitar mais detalhes da trama, pois parte do sucesso aqui consiste nas reviravoltas. O que dá para dizer é que os personagens ganham camadas conforme a coisa vai se revelando. Além disso, um certo nonsense faz a história fluir bem alinhado com o filme não se levar a sério – taí o ponto que demorei a assimilar e só então definir que sim, gostei bem de Um Pequeno Favor.
A dupla de atrizes (Kendrick e Lively) dominam a cena. Beirando a caricatura, algumas vezes a extrapolando por completo, elas conseguem passar sedução, burrice, inteligência, desprezo e mais uns dois pares de variações. Boa parte do sucesso da produção deve-se ao bom desempenho das duas. A gente precisa (não)acreditar nelas para a coisa funcionar.
O mesmo não se pode dizer dos personagens secundários. Ali alguns exageros sobraram e ficavam saturados, já que já víamos e melhor no centro da trama. Quando a comicidade já está evidente, o alívio cômico (pertinente em alguns filmes) perde força e se torna desnecessário.
Sabiamente, o filme incorpora as vidas paralelas das personagens ao foco principal. Seja a moda na personagem da Emily, seja o Vlog de Stephanie. A importância desses elementos vai crescendo e sendo utilizada em formas variadas.
Sean (Henry Golding), marido de Emily, é outro que ganha destaque. Ele vem como ponto de equilíbrio e, ao mesmo tempo, disrupção. O ator consegue lidar com as facetas, mesmo as mais clichês, de forma límpida. Os mesmo não se pode dizer do núcleo infantil. O filme não sabe o que fazer com eles e nem os pequenos atores sabem o que fazer em cena.
A montagem tem grande valor aqui. A constante agilidade exigida, requer um trabalho fora do comum para dar conta sem se perder. Dar sentido para o caos, por exemplo com flashbacks bem encaixados ou mesmo deixando a coisa esticar mais um pouco ou sendo abrupta em outros momentos são marcas aqui.
O design de produção é eficaz ou marcar as várias personalidades sem precisar de uma exposição textual. Veja as diferenças do cenário do VLOG para a casa clean de Emily. Ambos os locais refletem com perfeição a personalidade, pelo menos aparente, daquelas personagens.
Trocadilhos como “faça Um Pequeno Favor a você mesmo e vá assistir ao filme” estão permitidos?
Stephanie é uma jovem mãe que divide o tempo entre a criação do filho e o trabalho como vlogueira. Quando sua melhor amiga Emily desaparece, ela parte em uma jornada para descobrir a verdade por trás do ocorrido.