O Primeiro Homem conta um pouco da vida de Neil Armstrong (Ryan Gosling, que fez Blade Runner 2049), como a história entrega e o título insinua, aquele que sentiu como é pisar na Lua antes de qualquer outro terráqueo. Aqui o contexto político é afastado um pouco e a corrida espacial é antes uma corrida humana, de Neil com ele mesmo e os desafios mentais (e físicos) de tal empreitada.
Ou seja, mais uma vez o diretor Damien Chazelle, dos ótimos Whiplash e La La Land, debruça o talento que tem para nos mostrar um homem com um sonho, sonho que mais parece uma necessidade – mais ou menos aquela sensação que os poetas descrevem sobre o fazer deles. Mas temos aqui a obra mais fraca dentre as mais famosas do jovem diretor, não vou dizer a mais fraca da carreira de Chazelle, pois não vi o longa de estreia dele: Guy and Madeline on a Park Bench. Todavia, a não excelência não desqualifica o projeto e nem tira a ousadia.
Aqui vai um exercício de crítica: eu pessoalmente tive uma experiência bem desagradável. A lentidão, que em diversos filmes não é um problema, aqui foi uma tortura para mim. É uma obra que nunca mais quero ver. E a minha vontade é de dar nota mínima. Contudo, tenho que separar as coisas e há de se destacar diversos méritos e um esplendor técnico, caro ao diretor.
O trabalho imersivo é de se aplaudir. Em quase todo o longo filme (2h21) somos colocados na pele de um astronauta, de um homem que sofreu um trauma e tem um foco. O prólogo e boa parte do primeiro ato já marcam, para o bem ou para o mal, o que será apresentado. Se você ficou entediado, terá problemas. Se ficou instigado, será recompensado.
É possível dizer que o mote aqui é parte da clássica frase dita por Armstrong: “um pequeno passo para um homem…”. Já que O Primeiro Homem tem uma proposta introspectiva, sem se focar na humanidade como um todo, mas sim na cabeça daquele indivíduo.
Para tal, Chazelle dá vida à câmera deixando-a em constante movimento e sobretudo em planos fechados. O tremelicar se justifica de forma plena nas passagens espaciais ou tentativas de ali chegar. Porém no dia a dia o espelho acaba cansando. É possível entender o que o diretor quis, mas ainda assim não torna a experiência mais palatável.
Os personagens secundários, alguns com bem mais destaque obviamente, como a esposa Janet (Claire Foy) ajudam a compor o cenário daquele evento e povoam a tela com um calor que fora tirado, intencionalmente, do nosso protagonista.
Ryan Gosling, com a eterna cara de cachorro que caiu da mudança, possui um ar inexpressivo – mas recheado de emoção – que o personagem pedia. Os raros momentos de explosão sentimental são bem marcados e se justificam e justificam todo o resto.
Se a câmera e a atuação integram esse contexto, o elemento de maior destaque é o som. Sim, depois de um filme sobre um baterista e outro sobre um pianista não é de se estranhar a verve sonora aqui. Mas tenham em mente: com uma pegada totalmente diferente. Cada som carrega um peso e até um incômodo (este sim cinematograficamente adequado, mesmo que em parte angustiante). E o principal: os silêncios. Parte do desenho de som aqui é vigorosa exatamente quando não há qualquer ruído, ou salvo os dos próprios astronautas. Esse elemento nos joga para dentro daquela atmosfera de um jeito inquietante.
Pelos méritos próprios e seguindo uma tendência da academia de nomear filmes com o viés espacial e longas com o dedo de Chazelle, O Primeiro Homem deve ser lembrado em mais de uma categoria do Oscar do ano que vem. Arisco: as duas de som, efeitos, direção e melhor filme.
Desafio é a palavra que marca O Primeiro Homem. Desafio que foi lidar com aquelas renúncias e perdas à época. Desafio dos realizadores do filme ao trazer esse caráter tão pé no chão – e aqui cabe toda a ironia. E sim, um grande desafio para o público, que eu como espectador não fui capaz de vencer.
O trailer de O Primeiro Homem não dá conta de passar o que é o filme, mas também pudera…
A vida do astronauta norte-americano Neil Armstrong e sua jornada para se tornar o primeiro homem a andar na Lua. Os sacrifícios e custos de Neil e toda uma nação durante uma das mais perigosas missões na história das viagens espaciais.