O Filme da Minha Vida é o mais novo projeto atrás das câmeras do já consagrado ator Selton Mello. Com os ótimos Feliz Natal e O Palhaço, Selton já vinha se firmando como diretor. A história desta vez acompanha Tony (Johnny Massaro) que volta para a cidade onde nasceu no mesmo dia que o pai, por um motivo desconhecido, decide deixar o local. Esse peso da ausência paterna martela o tempo inteiro no jovem professor Tony. O personagem do Selton Mello (Paco) vem justamente como um amigo da família que tenta preencher tal lacuna.
A narração que abre o longa dá o tom: é inegável a verve poética que embala todo o filme. Tal áurea é um risco: se por um lado temos um mar de signos e convites a reflexões, por outro a possibilidade de soar como um discurso vazio é patente. Nas frases iniciais há uma metonímia para o todo: vida, memória, poesia, filosofia, metalinguagem está tudo ali.
O que incomoda no discurso é que cada pensamento quer ser o mais sensacional do universo (sem, claro, conseguir sê-lo). Momentos terrenos onde vemos um diálogo entre os personagens indo para um bordel ou então a relação com a mãe (ignorada em boa parte do filme) ficam em segundo plano.
Entendo que a proposta era justamente essa, mas fica algo piegas.
A relação de Tony com Luna (Bruna Linzmeyer) e Petra (Bia Arantes) é de contemplação e fascínio. A câmera pretende se apagar e buscar as meninas quase que em louvor àquelas imagens. Mas tal artifício pesa e tem o efeito oposto. A fotografia do brilhante Walter Carvalho carrega nas tintas e de modo correto exalta a dupla. Contudo, tal elemento não reverbera e se perde no decorrer do texto.
Todo o diálogo com o cinema é um deleite para os cinéfilos. Filmes que se passam em cinemas tem sem dúvidas um charme. Nesse ponto aqueles que pegarem as referências ao clássico Rio Vermelho terão um mimo a mais. Aqui a crítica fica por conta do personagem Paco. O discurso dele contra a sala de cinema até tem uma justificativa, contudo gera uma piada (que está no trailer) batida. É quase que como: “olha que legal, ele está falando mal de cinema e nós estamos aqui. Que engraçado”. Outras piadas presentes se pautam na repetição. Os “bordões” no núcleo infantil podem gerar risadas, mas pouco além. É a piada fácil, estilo zorra total.
A saudade que Tony sente do pai é colocada por flashbacks que mostram o bom relacionamento com o pai (a boa escolha do ator Vincent Cassel merece ser ressaltada). A ideia aqui é reforçar que antes presente, a figura paterna doí pelo espaço deixado, logo no momento que em Tony é um jovem adulto cheio de dúvidas sobre a vida. O foco neste arco merecia um melhor investimento, já que tinha potencial de ser o melhor do filme.
No terceiro ato, o que era abstrato – em um discurso pretensioso – se torna concreto e me fez sentir saudades do que eu vira antes. Os motivos, e principalmente a forma, como a coisa é realizada ficam simplificadas demais. A montagem acelera de modo estranho e momentos que poderiam vir carregados de emoção já não tem força.
O Filme da Minha Vida é menos do que ele acha que é. Ainda assim irá ludibriar muitos que ficarão embebecidos com os versos, sonhos e (in)certezas) ali presentes.
O jovem Tony (Johnny Massaro) decide retornar a Remanso, Serra Gaúcha, sua cidade natal. Ao chegar, ele descobre que Nicolas (Vincent Cassel), seu pai, voltou para França alegando sentir falta dos amigos e do país de origem. Tony acaba tornando-se professor, e vê-se em meio aos conflitos e inexperiências juvenis.