Buscando… nos premia com um excelente filme que já começa em um ótimo título que tem dois significados. A premissa aqui é bem simples: um pai tenta localizar a filha desaparecida (o “buscando número 1”). O diferencial é esta trama nos ser passada somente por meio de uma tela de computador e usando os elementos próprios daquela linguagem, como motores de busca e redes sociais (a outra parte do trocadilho), em prol da narrativa.
Inevitável lembrar do terror Amizade Desfeita, que segue a mesma lógica de tudo ser mostrado a partir de aplicativos e sites. Aqui, contudo, de forma ainda mais orgânica e ágil. Esta opção escolhida cria uma empatia com o público atual. É possível, todavia, que quem não está familiarizado com as diversas maravilhas (e desgraças) do mundo on line tenha um estranhamento inicial. O começo do filme (uma tela do windows) me lembrou uma sensação divertida parecida com a que tive ao ver o filme #EradosGigantes já que o documentário nacional usa como tela inicial o Youtube.
Só ser antenado (e antenado não é uma palavra antenada mais) com as modernidades poderia torna o filme curioso, o que o faz brilhante, contudo, é a junção com uma ótima história. Nesse quesito, outro aspecto da forma também faz bonito: a divisão dos atos.
A introdução de Buscando… beira um melodrama com todos os clichês, mas sabiamente o filme escapa de escorregar pelos perigos dessa abordagem e fica no tom certo para emocionar e para começarmos a entender as emoções dos personagens, algo que só vai se concluir devidamente no final – como deve ser em produções do gênero.
Não tarda para estarmos engajados junto com aquele pai que faz de tudo para ter informações da filha. O que pode ter acontecido? Quem pode ajudar? E o mais importante: ela ainda estará viva? Mais uma vez o mundo digital ajuda (e atrapalha) nessa empreitada. Desde organizar uma planilha com as informações que ele já tem, até entrar em contato com possíveis pistas.
O final é um prato cheio para quem adora reviravoltas. Produções que usam essa ferramenta tem que tomar cuidado para tais mudanças de direção não serem jogadas na tela de qualquer forma e surgirem do nada. Se o espectador não puder fazer parte daquela construção há chances do filme ruir. Buscando… consegue ser excelente também nesse sentido. Todas surpresas estavam bem embasadas e o público mais esperto pode até advinhar (confesso que uma das pistas falsas foi a que eu cai, o longa, portanto, conseguiu me enganar – no melhor sentido da coisa).
Quem merece muitos elogios é John Cho. O Ator que já tem várias produções no currículo, como os filmes recentes de Star Trek e diversas séries, imprime o tom necessário aqui. E melhor seria colocar no plural, já que Cho transita por vários sentimentos e características (firmeza, impotência, inteligência, fúria). O elenco inteiro está bem, mas como o filme é com ele quase 100% do tempo então fica esta nota destacada.
Por falar em nota, vale o comentário dos responsáveis pelo filme aqui que tiveram o cuidado de traduzir quase que inteiramente os letreiros que vemos no computador. Então as telas, sejam elas de diálogos ou mesmo os termos técnicos, estão em português o que facilita a compreensão de muitos.
Buscando… exala um frescor na forma e no conteúdo (vide a hipocrisia que vemos nas redes sociais, tema abordado no filme) e vem como não só um dos melhores suspense do ano, como um dos melhores filmes de 2018
Após uma jovem de 16 anos desaparecer, seu pai David Kim pede ajuda às autoridades locais. Sem sucesso, após 37 horas, David decide invadir o computador de sua filha para procurar pistas que possam levar ao seu paradeiro.