As Invisíveis tem como foco dar visibilidade para um grupo de assistentes sociais e para mulheres moradoras de rua. Nesse sentido, temos um trabalho de sororidade, carisma, diversidade e, claro, a saturada palavra, empatia. O longa tem um tom documental, seja pelos planos mais fechados, seja por parte do elenco não ser composto de atrizes profissionais, realçando assim uma vivência mais crua e autêntica, mas claro prejudicando um pouco as nuances interpretativas.
A trama segue um grupo de mulheres sem-teto cujo abrigo onde vivem corre o risco de ser fechado por conta de uma decisão judicial. Então, elas e as assistentes sociais (com protagonismo de Audrey) terão que se reinventar para conseguir sobreviver aos percalços do dia a dia, além de serem reintegradas à sociedades através da busca por um trabalho. Em uma pegada de dramédia, temos momentos de uma alegria espontânea e, claro, momentos mais complicados e tristes.
Falta, contudo, um maior viço, um peso dramático. Talvez a proposta foque mais em uma homenagem do que uma denúncia, opção que é também válida, mas fica um ar de muita simplificação. Por exemplo, há uma clara preocupação em ser representativo étnica e culturalmente, ainda mais na França tão múltipla, e contemplando mulheres de várias idades. Esse protagonismo variado é obviamente muito bem-vindo, mas As Invisíveis não explora o potencial desse recorte. Por vezes soa simplesmente que não havia muito o que ser contado (quando claramente havia) e são inseridos momentos clipescos subtramas quase avulsas.
Os nomes que as personagens assumem, Brigitte Bardot, Selma Hayek, Lady Di, mostram uma abertura ao sonho, identidade e vontade de ser o que quiser, transmitem um olhar afetuoso e potente. Outro momento de destaque é quando uma das personagens tem um arco que envolve o passado dela na cadeia e como a sociedade, mesmo a dela, vê tal fato, também mostra esse trabalho de desconstrução-construção, sempre sob a ótima cômica, ela deve ou não mentir sobre o fato? O trailer mostra esse momento, trailer aliás que dá bem o tom do filme, apesar de revelar os melhores momentos um pouco além da conta, algo costumeiro em filmes de comédia.
A cena final é uma síntese do todo. Luta contra o sistema, as coisas nem sempre saindo perfeitinhas (o mundo real não é um conto de fadas) e um certo desfile debochado que era a cara daquelas mulheres. As Invisíveis poderá render reflexões e até trazer para a cabeça do espectador uma realidade que não está acostumado. Mas ao mesmo tempo, ele tenta se equilibrar em uma proposta calorosa e leve. Não sendo plenamente efetivo em nenhum dos dois lados.
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Após uma decisão da prefeitura, o abrigo feminino Envol é obrigado a fechar as portas. Com apenas três meses em funcionamento, as assistentes sociais fazem de tudo para conseguir reintegrar estas mulheres na sociedade, incluindo crimes como falsificação, roubos e mentiras.