O principal mérito de 10 Segundos para Vencer é apresentar o boxeador Eder Jofre (Daniel de Oliveira) para as novas gerações. Mas este é um valor histórico/esportivo e não cinematográfico. Infelizmente neste, o filme se perde em vários sentidos. Tanto que os momentos mais valorosos são quando vemos imagens de arquivo.
A necessidade de fazer uma espécie de check list da vida de Jofre, aqui representada da infância à disputa pelo segundo cinturão, tornam muitas passagens desnecessárias, principalmente no primeiro ato. Abraçado a este fato, temos diálogos sofríveis. Com generosas pitadas de auto-ajuda, o texto fica ainda mais fraco ao ser repetido a exaustão. Várias conversas são facilmente antecipáveis e cai em clichês absurdos. Quando lembramos que o roteirista é o mesmo do fraquíssimo Polícia Federal – A Lei é Para Todos…
Outro problema em 10 Segundos para Vencer é a montagem, principalmente nas cenas de boxe, carro chefe aqui. Só para citar dois exemplos recentes, o longa Nocaute ou mesmo o nacional Mais Forte que o Mundo – A história do José Aldo, já nos mostraram o quão empolgante podem ser as lutas quando bem filmadas. Aqui a natural vontade de sair e dar uns socos não vem e isso ocorre pela falta de traquejo em como as lutas são filmadas e editadas. Muita câmera próxima e cortes em demasia (inclusive em tentativas de mostrar o público ou pai/técnico de uma forma que só ajuda ainda mais a quebrar o ritmo das trocações).
Mas as opções ruins não se limitam às cenas esportivas. Há várias inserções de flashbacks que acrescentam em nada (limitando-se a mostrar o menino Eder sorrindo). Ou então o velho truque de abrir com uma cena final de forma a fisgar o público, quando o efeito é só dar um spoiler para aqueles que não conhecem a história real. Graças aquele trecho o público ocasional sabe que aos 37 anos Jofre estará de volta aos ringues e disputando um cinturão.
Nos primeiro minutos de 10 Segundos para Vencer somos apresentados a vários personagens e o filme nos convida a nos engajarmos por eles. Mas logo os joga fora e ficamos com a sensação de tempo mal utilizado – e não só personagens, o fato dele desenhar míngua por completo. Se não era algo relevante por qual motivo dar tanto destaque? A relação com o empresário (com um alívio cômico incômodo) é outro momento que perde uns bons minutos.
A vida dupla de Eder vem mais como um obstáculo do que como camadas do personagem. O arco com a esposa é enjoadíssimo, o do irmão piegas e a relação com o pai/treinador é batida. As idas e vindas de Jofre cansam. É a velha dúvida de ficar mais tempo com a família ou pensar na carreira? Sem contar o velho hábito de tentar emocionar envolvendo criança e câncer.
Vale o destaque, agora positivo, para a fotografia de Lula Carvalho (que tem diversos trabalhos, inclusive internacionais, mas ressalto o nacional Bingo: O Rei das Manhãs). A iluminação variada sabe extrair o melhor de cada ambiente, em especial o lado de fora da casa de Cida (Keli Freitas), esposa do Eder Jofre, ou nos momentos que o protagonista se afasta dos ringues e a tristeza é vista mais pela fotografia (em uma paleta fria) do que por qualquer outro elemento.
O design de produção é outro que garante mais elogios ao 10 Segundos para Vencer. A academia de Kid Jofre (Osmar Prado) é um exemplar perfeito da decadência e da importância do sucesso de Eder (muito mais que um apelo à doença). No entanto, o trabalho nas passagens de tempo – e aí entra a crítica também à maquiagem – não é tão satisfatório. Em Eder até vemos um cuidado maior, nos demais nem tanto.
As atuações eu comento com especial pesar. Daniel de Oliveira e Osmar Prado, dois ótimos atores, aqui estão apenas caricatos e são os dois melhores (atores e atuações) do elenco. As atrizes femininas principais (Keli Freitas e Sandra Corveloni) são atrapalhadas pelo texto que coloca só frases dolorosamente ruins para a dupla. Já o elenco infanto juvenil é só sofrível mesmo.
Com uma história tão boa e com valor técnico é triste ver um longa tão recheado de senões. O filme sai grogue da batalha contra ele mesmo e 10 segundos não são suficientes para se reerguer desse auto-boicote.
Conhecido como "Galinho de Ouro", por ter sido eleito o maior peso galo da história do boxe, Eder Jofre é considerado um dos maiores boxeadores de todos os tempos. Nem a infância difícil no bairro do Peruche, em São Paulo, conseguiu deter Eder, que se consagrou campeão mundial em 1961, nos Estados Unidos.