Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Com a aproximação da cerimônia de premiação, intensifica-se o debate sobre quais são os favoritos ou os melhores filmes da lista de indicados nas mais diversas categorias. A categoria de melhor filme estrangeiro é atípica no formato de seleção dos indicados, no da escolha do vencedor e, principalmente, na linguagem dos filmes selecionados. Frequentemente, recebem a indicação filmes que venceram ou se destacaram em grandes festivais europeus, como Cannes e Berlim. Esta é a categoria que privilegia o cinema autoral e que reserva espaço para o que, comumente, se chama de filme de arte, cult ou alternativo.
Em 2018, afirmo, sem medo de errar, que a qualidade média dos filmes estrangeiros é maior que a da lista de indicados a melhor filme.
Por fim, esclareço que este ranking se concentra apenas na lista dos filmes indicados. Neste texto, não discutirei eventuais injustiças. Além disso, trata-se de uma lista estritamente pessoal, portanto, não há correspondência exata entre as críticas do Razão de Aspecto, escritas por diferentes autores, e ordem de preferência apresentada aqui.
Confira as críticas dos filmes indicados ao Oscar 2018.
Confira o ranking dos indicados a melhor filme
Vamos à lista:
Toni (Adel Karam) é um cristão libanês que sempre rega as plantas de sua varanda e um dia, acidentalmente, acaba molhando Yasser (Kamel El Basha), um refugiado palestino. Assim começa um intenso desacordo que evolui para julgamento com ampla cobertura midiática e toma dimensão nacional O Insulto é um raro caso de um filme que, apesar de ter um foco claro, quer ser muita coisa e consegue se realizar de modo efetivo.
É plenamente justificável a indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
Nota: 4,5/5
4- The Square: A Arte da Discórdia (Suécia)
The Square ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes 2017 e chega como favorito à disputa do Oscar de Melhor film estrangeiro em 2018, embora não seja o meu favorito nesta lista.
Ruben Östlund, diretor do também indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro Force Majeure, constrói uma narrativa baseada no sarcasmo, na crítica social ácida e no absurdo. Preconceito social, exclusão, imigração, hipocrisia, limites e função da arte, pedantismo artístico, egocentrismo, misantropia, misoginia, publicidade, papel da mídia e relações familiares são os temas tratados e criticados em The Square, por vezes com tamanha força que parecem ser esfregados na nossa cara. Se parece que o filme trata de muitos temas e que seria impossível aprofundar-se em todos eles, sim, The Square não se aprofunda na maioria deles, mas também parece não ter essa intenção. Claramente, os objetivos são a provocação, o incômodo e a incitação à reflexão, sem respostas fáceis e diretas.
Nota: 5/5
Uma Mulher Fantástica traz à tona um tema sensível, sem perder o viço cinematográfico.
Marina (Daniela Vega) é uma garçonete transexual que passa grande parte dos seus dias buscando seu sustento. Seu verdadeiro sonho é ser uma cantora de sucesso e, para isso, canta durante a noite em diversos clubes de sua cidade. Após a inesperada morte de Orlando (Francisco Reyes), seu namorado e maior companheiro, sua vida dá uma guinada total.
O riquíssimo Uma Mulher Fantástica, portanto, só pode ser definido com o trocadilho simples: é um filme fantástico.
Nota: 5/5
Vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim, Corpo e Alma integrou a lista dos dez melhores filmes de 2017 do Razão de Aspecto. Dois personagens dos mais instigantes em um ambiente controverso, além de uma premissa inventiva, compõem a fórmula de Corpo e Alma. A trama tem como cenário principal um abatedouro onde Maria (Alexandra Borbély) e Endre (Géza Morcsányi) trabalham. Trata-se de uma narrativa cheia de símbolos e com sensibilidade profunda.
Nota: 5/5
Apesar de não ter agradado a Lucas Albuquerque, nosso treteiro de plantão, Sem Amor é o primeiro da minha lista. Não é o favorito ao prêmio, mas, no conjunto, é o filme mais completo.
Em Sem Amor, Boris (Alexey Rozin) e Zhenya (Maryana Spivak) estão se divorciando. Depois de anos juntos, os dois se preparam para suas novas vidas: ele com sua nova namorada, que está grávida, e ela com seu parceiro rico. Com tantas preocupações eles acabam não dando atenção ao filho Alyosha (Matvey Novikov), que acaba desaparecendo misteriosamente.
Com uma narrativa densa sobre o vazio de sentimentos, Sem Amor retrata tanta negligência, tanto descaso e tantas atitudes pouco éticas que me fez sair da sala de cinema me sentindo oco. Poucos filmes são capazes de causar esse efeito – dos filmes de 2017 que chegaram ao Brasil em 2018, posso citar O Sacrifício do Cervo Sagrado -, e Sem Amor consegue unir o efeito narrativo ao estético, com todo o talento já demonstrado pelo diretor Andrey Zvyagintsev em O Leviatã, também indicado ao Oscar nesta categoria.
Nota: 5/5