OSCAR DE MELHOR FILME ESTRANGEIRO – CRÍTICAS E RANKING DOS INDICADOS
por: Mauricio Costa
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18/02/15
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Considero a categoria de melhor filme estrangeiro a mais interessante do Oscar. As razões que me levam a essa opinião são diversas, mas igualmente relevantes: a) o processo de escolha dos indicados contribui para difundir grandes realizações cinematográficas para o grande público; b) contribui, em grande medida, para sofisticar o gosto cinematográfico do público; c) leva ao grande público o conhecimento de novas culturas e novas linguagens; d) reconhece a qualidade artística e o talento dos profissionais do cinema fora Hollywood.
Diferentemente do que ocorre na categoria de melhor filme – muito em função da diferente forma de selecionar os indicados -, o Oscar de melhor filme estrangeiro privilegia qualidade artística em detrimento da fórmula hollywoodiana de filme oscarizável. Ainda que haja clara preferência temática nos filmes selecionados ao longo dos anos, sempre são indicados filmes de linguagem não convencional, com abordagens temáticas muito sensíveis e envolventes. Não há filmes medianos nessa categoria.
Em 2015, os indicados representam Argentina, Estônia, Mauritânia, Polônia e Rússia. São grandes filmes sobre temas diversos, respectivamente: tolerância, os efeitos e a falta de sentido da guerra, os absurdos do fundamentalismo, a autodescoberta e a luta do indivíduo contra o autoritarismo do Estado. Devido à exiguidade de tempo, não será possível fazer críticas completas de todos os indicados, mas foi possível elaborar nosso ranking comentado. Mais uma vez, é necessário esclarecer que o ranking reflete a nossa preferência, e não o favoritismo dos filmes ao prêmio – que será tema de texto específico no Blog.
5- RELATOS SELVAGENS
Gênero: Comédia Direção: Damián Szifron Roteiro: Damián Szifron Elenco: Darío Grandinetti, Diego
Gentile, Diego Velázquez, Erica Rivas, Julieta Zylberberg, Leonardo
Sbaraglia, Liliana Ackerman, María Marull, María Onetto, Mónica Villa,
Nancy Dupláa, Oscar Martínez, Osmar Núñez, Ricardo Darín, Ricardo
Truppel, Rita Cortese Produção: Agustín Almodóvar, Esther García, Hugo Sigman, Matías Mosteirín, Pedro Almodóvar Fotografia: Javier Julia Montador: Damián Szifron, Pablo Barbieri Carrera Trilha Sonora: Gustavo Santaolalla Duração: 122 min. Ano: 2014 País: Argentina / Espanha Cor: Colorido Estreia: 23/10/2014 (Brasil) Estúdio: El Deseo S.A. / Kramer Classificação: 16 anos
Nota do Razão de Aspecto:
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O que aconteceria e, de repente, o ser humano perdesse suas barreiras morais? Se decidíssemos realizar todos os nos planos de vingança? Se resolvêssemos expressar toda a raiva contida que guardamos contra o que consideramos injusto? Este é o tema das seis histórias de Relatos Selvagens, longa metragem com direção e roteiro de Damián Szifron.
Relatos Selvagens é um filme forte, que desperta empatia no público. É quase impossível que o espectador deixe de identificar-se com pelos menos uma de suas seis histórias. Ao mesmo tempo, o filme é desequilibrado, considerando que três histórias sobressaem sobre as demais, especificamente as do engenheiro, interpretado pro Ricardo Darín, da estrada e do casamento, enquanto das demais são apenas medianas. Esse desequilíbrio faz do representante da Argentina o mais fraco dos cinco concorrentes, o que não significa que não seja um excelente filme.
4- TANGERINES
Gênero: Drama Direção: Zaza Urushadze Roteiro: Zaza Urushadze Elenco: Elmo Nüganen, Giorgi Nakashidze, Lembit Ulfsak, Misha Meskhi, Raivo Trass Produção: Ivo Felt Fotografia: Rein Kotov Montador: Alexander Kuranov Trilha Sonora: Niaz Diasamidze Duração: 87 min. Ano: 2013 País: Georgia / Estônia Cor: Colorido Distribuidora: Georgian Film Estúdio: Allfilm
Nota do Razão de Aspecto:
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Bergamotas, ups, Tangerines discute o sentido da guerra, ou a falta dele, e o que leva homens comuns a odiarem-se e a matarem-se sem uma razão concreta. Para realizar essa discussão, o longa metragem do georgiano Zaza Urushadze investe no encontro entre um soldado georgiano e um mercenário checheno feridos em uma vila quase deserta na Abhkazia, onde são socorridos por um morador estoniano que os obriga a conviverem pacificamente durante a recuperação.
Tangerines tem uma narrativa sensível e tocante, que permite ao espectador acompanhar a transformação dos personagens ao longo do processo de convivência, quando passam a se compreenderem como seres humanos em vez de meros alvos inimigos. Quando o desastre chega – na guerra, o desastre tarda, mas não falha -, percebemos como o indivíduo é capaz preservar sua humanidade, mesmo nas circunstâncias mais adversas. Parece paradoxal, mas considerei o filme otimista do pontos de vista estritamente filosófico.
3- TIMBUKTU
Gênero: Drama
Direção: Abderrahmane Sissako
Roteiro: Abderrahmane Sissako, Kessen Tall
Elenco: Abel Jafri, Adel Mahmoud
Cherif, Cheik A.G. Emakni, Damien Ndjie, Djié Sidi, Fatoumata Diawara,
Hichem Yacoubi, Ibrahim Ahmed, Kettly Noël, Layla Walet Mohamed, Mamby
Kamissoko, Mehdi A.G. Mohamed, Salem Dendou, Toulou Kiki, Weli Cleib,
Yoro Diakité, Zikra Oualet Moussa
Produção: Sylvie Pialat
Fotografia: Sofian El Fani
Montador: Nadia Ben Rachid
Trilha Sonora: Amin Bouhafa
Duração: 97 min.
Ano: 2014
País: França / Mauritânia
Cor: Colorido
Estreia: 22/01/2015 (Brasil)
Distribuidora: Imovision
Estúdio: Dune Vision / Les Films du Worso
Classificação: 14 anos
Nota do Razão de Aspecto:
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Poesia. Nenhum outro substantivo define melhor Timbuktu, representante da Mauritânia no Oscar 2015. O filme tem sequências absolutamente memoráveis, capazes de sensibilizar qualquer coração insensível diante do absurdo que se instalou na vila de Timbuktu após a chegada dos Jihadistas. Em especial, destaco a cena em que os jovens do pequeno vilarejo, proibidos de jogar futebol, encenam uma partida sem bola, de forma completamente sincronizada. A música orquestrada, o enquadramento em plano médio e o desenvolvimento em câmera lenta deram à cena a semelhança com o ballet, ao mesmo tempo em que traduz as válvulas de escape do ser humano diante ao autoritarismo.
Ao contrário do que se podem imaginar, Abderrahmane Sissako não realizou um filme maniqueísta. Ao longo da narrativa, trava-se o debate entre os jihadistas e o islamismo moderado como mediador das relações na região. Retrata-se tudo aquilo que o ocidente considera “barbárie”, mas também se pode compreender as motivações envolvidas, sem condescendência ou maniqueísmo. Em Timbuktu, o ser humano se torna caça do ser humano quando o fundamentalismo prevalece sobre a razão.
2- LEVIATÃ
Gênero: Drama
Direção: Andrey Zviaguintsev
Roteiro: David Webb Peoples, Jeb Stuart
Elenco: Amanda Pays, Daniel Stern,
Ernie Hudson, Eugene Lipinski, Hector Elizondo, Larry Dolgin, Lisa
Eilbacher, Meg Foster, Michael Carmine, Pascal Druant, Peter Weller,
Richard Crenna, Steve Pelot
Produção: Aurelio De Laurentiis, Luigi De Laurentiis Jr.
Fotografia: Alex Thomson
Montador: John F. Burnett
Trilha Sonora: Jerry Goldsmith
Duração: 141 min.
Ano: 2014
País: Rússia
Cor: Colorido
Estreia: 15/01/2015 (Brasil)
Distribuidora: Imovision
Estúdio: Filmauro / Gordon Company / Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Classificação: 14 anos
Nota do Razão de Aspecto:
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Embora não seja o meu preferido entre os cinco concorrentes, Leviatã é o favorito ao prêmio do Oscar de melhor filme estrangeiro de 2015 – não por acaso, venceu o Globo de Ouro na mesma categoria. O filme é uma grande metáfora sobre a Rússia moderna, representada pela luta do indivíduo contra o autoritarismo do Estado.
O cenário da narrativa é uma pequena cidade no interior da Rússia, onde se trava uma batalha judicial entre um cidadão comum e o prefeito corrupto a respeito da desapropriação da casa da família. O homem decide enfrentar a máquina do Estado até o fim e sofre as consequências dessa luta na vida profissional e familiar.
Em Leviatã, o peso da narrativa é apoiado pelos planos abertos em paisagens às vezes solitárias, às vezes devastadas, que progressivamente representam a destruição emocional, profissional e mental do protagonista. O grande esqueleto de baleia representa simbolicamente aquilo que resta de um sistema apodrecido em meio à desolação que resulta quando um ser humano sucumbe ao tentar enfrentar solitariamente um sistema podre e corrupto.
1- IDA
Gênero: Drama
Direção: Pawel Pawlikowski
Roteiro: Pawel Pawlikowski, Rebecca Lenkiewicz
Elenco: Adam Szyszkowski, Afrodyta
Weselak, Agata Kulesza, Agata Trzebuchowska, Anna Grzeszczak, Artur
Janusiak, Dawid Ogrodnik, Dorota Kuduk, Halina Skoczynska, Izabela
Dabrowska, Jan Wociech Poradowski, Jerzy Trela, Joanna Kulig, Mariusz
Jakus, Natalia Lagiewczyk
Produção: Eric Abraham, Ewa Puszczynska, Piotr Dzieciol
Fotografia: Lukasz Zal, Ryszard Lenczewski
Montador: Jaroslaw Kaminski
Trilha Sonora: Kristian Eidnes Andersen
Duração: 82 min.
Ano: 2013
País: Dinamarca / Polônia
Cor: Colorido
Estreia: 25/12/2014 (Brasil)
Distribuidora: Zeta Filmes
Estúdio: Opus Film / Phoenix Film Investments
Classificação: 16 anos
Nota do Razão de Aspecto:
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Ida é um filme de narrativa poderosa – razão que o torna meu candidato preferido ao Oscar de melhor filme estrangeiro de 2015. Apesar da indiscutível qualidade de todos os seus concorrentes, Ida é um filme superior em todos os quesitos.
A narrativa da autodescoberta de uma quase freira que se descobre judia e vai em busca de seu passado fundamenta-se muito mais na inteligência dos silêncios do que na inteligibilidade dos diálogos. A densidade dos personagens, especialmente da protagonista e de sua tia, cala fundo no espectador. A fotografia em preto em branco, juntamente com a alternância entre os planos abertos em plano fechados, retrata a solidão e a angústia, a desolação e dúvida que caracterizam a relação entre a noviça e sua tia recém descoberta em busca da verdade sobre o destino de sua família durante a Segunda Guerra Mundial.
Ida é uma experiência psicológica e estética inesquecível para os admiradores do cinema como arte, com direção magistral de Pawel Pawlikowski.
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