Martírio tem importância inquestionável como registro histórico diacrônico e sincrônico sobre a questão indígena no Brasil. Do ponto de vista documental, a combinação entre a pesquisa histórica, as imagens de arquivo e as próprias filmagens realizadas pelo diretor, há 25 anos, formam uma narrativa consistente e coerente. Infelizmente, a clara paixão do diretor pelo tema prejudicou o desenvolvimento do filme, com uma montagem pouco eficiente, por vezes redundante, que acaba enfraquecendo aquele que deveria ser o conteúdo central da narrativa: a denúncia da situação de miséria e de violência a que estão submetidos os Guarani Kaiowá. Ao longo filme, pensei que teria sido mais eficiente realizar uma série documental – e não coloco esse ponto como crítica, mas, sim, como reconhecimento da importância daquele material para o documentário brasileiro. Um longa metragem um pouco mais curto, com foco na denúncia, teria maior efeito, e não excluiria a realização da série documental para aprofundar a discussão. Como ponto forte, o diretor Vincent Carelli soube como explorar as contradições entre o suposto progressismo do governo Dilma, o tratamento da questão indígena e a aliança com o agronegócio. Martírio venceu o prêmio do público no Festival de Brasília 2016 mais em função da importância do tema do que da sua execução, mas, ainda assim, tem mais méritos do que deméritos.
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